segunda-feira, 6 de julho de 2009

Por um jornalista universal

*Onofre Ribeiro

Peço permissão aos leitores para voltar ao assunto da dispensa do diploma de jornalista para o exercício profissional, justamente pela interferência que tem a informação na vida de todas as pessoas.

Quase impossível imaginar pessoas que não recebam algum tipo de informação de massa. Quero lembrar um fato que muito me marcou a respeito. Em 1994 viajava em companhia do jornalista Rui Matos (hoje editor da revista RDM), entre Matupá e São José do Xingu através da então rodovia BR-080, uma estrada aberta pelos governos militares ligando a BR-158 (Barra do Garças-MT a Belém-PA) à BR-163 (Cuiabá a Santarém (PA). O nosso carro era uma pick-up Pampa nova. Os 240 km que separavam Matupá de São José do Xingu era um deserto enorme e a rodovia se perdia dentro da mata fechada fazendo dela um túnel escuro. Quase ninguém passava por ali, muito menos em tempo de chuva como nós nos aventuramos. Gastamos 9 horas e socorremos muita gente que esperava ajuda há dias.

O que havia eram enormes agropecuárias de grandes grupos empresariais do Sudeste. Era o dia 20 de junho e o Brasil jogava contra a República dos Camarões na Copa do Mundo de 1994. Paramos para ver o jogo na fazenda Jarinã, aquela que serviu de base para o resgate dos passageiros do voo da Gol que caiu perto dali em 2007. Lá eles tinham uma antena parabólica e um motor estacionário gerando energia. Hoje o cenário é outro, porque já não é mais aquele deserto e a energia elétrica já chegou à região.

Em qualquer sítio rural, existe pelo menos um radinho a pilha ou uma antena parabólica captando imagens de televisão. No mundo urbano nem é preciso falar. A informação é insumo do cotidiano da empregada doméstica, do pedreiro, do profissional liberal e de qualquer pessoa.

Imagino que um botânico que deseja fazer uma revista ou um jornal sobre orquídeas seja beneficiado por não precisar de diploma. Ou o veterinário que escreva artigos técnicos para a mídia convencional ou segmentada. O mestre de cozinha citado pelo ministro Gilmar Mendes pode escrever à vontade em revistas especializadas em gastronomia que todos nós o agradeceremos. Isso vale para qualquer outro profissional.

Mas quem escreverá ou reportará o noticiário político, policial, econômico, do cotidiano das cidades? Certamente não serão os economistas, os advogados, etc. Mas, de tudo isso, tiro uma leitura muito séria: os jornalistas precisarão melhorar muito para continuarem exercendo a sua profissão. As faculdades terão que mudar profundamente as suas atitudes e os currículos para garantirem um profissional melhor qualificado. Os currículos terão que ser mais humanistas do que técnicos. É preciso dar formação de literatura, de história econômica, política, universal, sociologia, psicologia, noções de direito, geografia econômica e filosofia. A sociedade e o mercado não querem mais profissionais genéricos com visão genérica sobre generalidades. O mundo do século 21 precisa de um jornalista holístico, com visão universal, capaz de entrevistar um parlamentar, por exemplo, e trazê-lo para discussões mais construtivas, ou um cientista e não ficar de boca aberta considerando novidade tudo que ele disser, por ignorância de conteúdo.

Ah! É difícil, diria o jornalista acomodado. Sempre foi difícil. Só que a sociedade tolerava. A decisão do Supremo Tribunal Federal acaba sendo boa nesse sentido de aprimorar a formação de profissionais de jornalismo mais cultos, mais críticos e mais capazes de compreenderem o mundo atual e o futuro. Se for difícil, quem sabe na seja a hora de seguir o conselho do ministro Gilmar Mendes e o jornalista se tornar chefe de cozinha...!

*Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso e secretário-adjunto de Imprensa da Secom-MT - onofreribeiro@terra.com.br

Um comentário:

  1. Concordo plenamente com Onofre Ribeiro, aliás, este o considero o guru da imprensa escrita mato-grossense. Deixar de exigir diplomas para a profissão de jornalista é o mesmo que abolir o diploma para o exercício da medicina, oportunizando assim para que 'benzedeiras', 'curandeiros' 'pai de santo' etc. etc. etc exerçam a profissão de médico. Apesar que, existem muitos profissionais da medicina sabendo menos do que os exemplos acima citados. Mas é aí que como Onofre citou, entra a responsabilidade das Universidades de estarem melhorando em muito seus currículos.

    Ailton Santiago.

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