por Alexandre Garcia
Semana passada, o ex-presidente da Coréia do Sul se jogou de um penhasco, envergonhado das acusações de corrupção em seu governo. Dias antes, na Inglaterra, o presidente da Câmara dos Comuns, sentindo-se omisso por causa de gastos excessivos dos auxílios-moradia de deputados, renunciou à presidência e ao mandato. O deputado estadual do Paraná, que dirigindo bêbedo e sem habilitação matou dois, acaba de renunciar ao mandato, ainda no hospital. Mas isso não é sinal de que o exemplo possa ser seguido.
Na Câmara de Vereadores de Redenção, Pará, foi autorizada uma festa de cabeleireiros, para promover cosméticos, e o que se viu foi um arremedo de bacanal romana. No plenário, homens dançando de torso nu, mulheres ajoelhadas diante deles, fingindo atos libidinosos - um horror! O evento fora autorizado pelo secretário e pelo presidente do legislativo. Fico imaginando com que se justificaram para autorizar esse péssimo uso do plenário, imaginando que conseguiriam depois se redimir em Redenção...
Quem sabe tenham pesquisado notícias do mensalão, em que se alugava apoio político no plenário da Câmara Federal e eles julgaram ser coerente ceder o plenário da Câmara Municipal. Quem sabe tenham buscado inspiração no Senado, em que um diretor cede o apartamento funcional para o filho, depois para a ex-nora e depois para outro filho, e o imóvel termina arrasado - e acharam normal ceder a Câmara de Vereadores para o arraso dos cabeleireiros. Talvez tenham imaginado que não haveria mal algum num sexo-evento porque, afinal, no Congresso Nacional, as passagens pagas pelo contribuinte para viagens a serviço estavam sendo usadas para passeios da sogra, da amante, da namorada.
Antes de autorizar, podem ter feito contas, comparando-se com outros vereadores. Os de Nova Lima, Minas Gerais, por exemplo, pouco trabalham e ganham 12 mil por mês. E quando se reúnem é para discutir a obra de uma sede de jogo de buraco. Para se garantir, podem ter pesquisado a conduta de outros legisladores, mais experientes e mais importantes. Como o conterrâneo deles, Jader Barbalho, ex-presidente do Senado, que fingiu construir um ranário para justificar empréstimo oficial. Ou de outro presidente do Senado, que se viu envolvido em denúncia de que uma empreiteira pagava a pensão alimentícia para o filho que ele tivera fora do casamento. E se alguma dúvida ainda restava, ela se dilui quando chegou a notícia de que um ex-presidente da República, atual presidente do Senado, recebia auxílio-moradia mesmo morando na mansão oficial de presidente do Senado. Aí, não hesitaram mais:
- Autorize-se!
Alexandre Garcia é jornalista em Brasília
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