Minha sogra, que não suporta ver cenas antiigiênicas, diria: “Écate, ele esmagou a mosca com a mão!” Mas o Obama pode. O tapinha foi até gentil. Depois ele ainda mostrou o bichinho estatelado no chão. O mundo inteiro viu e sorriu com ele. Mas, o que o carismático presidente dos Estados Unidos não sabia é que aquilo não era uma mosca comum. Era uma espiã, desenvolvida por segmentos da sociedade brasileira e que estava em fase de testes.
O pior é que a próxima missão do finado inseto-robô seria tentar desvendar os segredos que correm no Senado Federal brasileiro. Trabalho, aliás, dos mais difíceis, tendo em vista que a Casa sabe muito bem esconder seus atos, digamos, pouco éticos. Tanto isso é verdade, que sou capaz de apostar que os primeiros indícios de que há mais coisa suja debaixo do tapete, do que uma simples denúncia de contratações irregulares, não vão dar em nada. Como sempre.
A nossa chance era a mosquinha, coitadinha. Mas dó mesmo eu tenho é da gente. O plano estava todo preparado. Não tinha como dar errado. Nossa mosca-espiã já estava em última fase de aperfeiçoamento. Em breve ela iria infiltrar-se naquela casa de leis (ou casa sem leis?...) e depois enviar as informações, via internet, para todos os órgãos de imprensa. Seria a realização do sonho de muita gente. Quem nunca disse a frase “ah, eu queria ser uma mosquinha nessa hora”?
Ela era a nossa chance de descobrir porque o tri-presidente do Senado José Sarney (eleito pela terceira vez!), disse que a crise do Senado não é dele. Por que será? Tô aprendendo na cadeira da universidade que gerente só é gerente porque consegue assumir mais responsabilidades do que os outros. Então, que gerente é esse?
Ele deve achar que a crise do tamanho de um oceano, na qual nos fez afundar durante os anos 80, e que nos traz prejuízos até hoje, também não foi culpa dele. Pensando bem, não foi mesmo. Foi do povo, que o deixou pisar a rampa do Planalto, depois da morte estranha do eleito Tancredo Neves. Aliás, se tivéssemos a mosca-detetive naquela época...
Assisti à reportagem sobre o discurso do gerente Sarney - que podia ser intitulado “Corpo fora? Quem, eu?” -, acompanhado de um amigo que, em ato instantâneo, disse: “esse mosca-morta tá pensando que a gente é besta?” Olha a mosca aí de novo. Mas eu não concordei com o termo “mosca-morta”. Eu prefiro um mais adequado: “mosca-viva-fingindo-de-morta”. Isso que ele é.
Afinal de contas, o parlamentar em questão já foi e voltou “trocentas” vezes. Até inimigo do Lula, seu grande aliado de hoje, eu me lembro de ele ter sido. Aliás, fico impressionado com o fato de que, enquanto a gente fica comendo mosca por aí, esses políticos vão se revezando no poder.
Eles conseguem contrariar as regras do ciclo de vida das empresas e das pessoas, que tem a lógica definida em nascimento, crescimento, amadurecimento e declínio. Do Sarney ao Collor, o Senado Federal é um palco onde desfilam, sem medo de serem felizes, esses tipos que insistem em mudar o percurso natural das coisas. Hoje o Fernando dos descamisados e dos pés descalços delibera sobre verbas do PAC, plano de governo do outrora sapo barbudo. É pra acabar mesmo. E depois, quando se fala que é só no Brasil que essas coisas acontecem, a gente ainda duvida.
Bem, a mosca morreu. O Obama sorriu. E nós vamos continuar aqui, rezando para que um dia seja encontrada uma nova maneira de infiltrarmos o mundo fechado e pouco democrático, não só do Senado Federal, mas de todas as instituições que representam os três poderes no Brasil. Enquanto isso, o Sarney já esqueceu o assunto e está procurando um jeito de realocar a sobrinha dele. Acertei na mosca?
Guto Dobes é comunicador, acadêmico de Administração da UFMS.
E-mail:gutodobes@gmail.com
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